Amigos, uma das histórias mais folclóricas do futebol brasileiro, eternizado como o Fla - Flu da Lagoa.
Um dos maiores Fla-Flu de todos os tempos, talvez o maior. Assim pode ser considerada a final do campeonato carioca de 1941. Não pela beleza do espetáculo futebolístico, mas pelo folclórico e emocionante segundo tempo do jogo.
Em 1941 o Campeonato Carioca teve 4 turnos, dois ganhos pelo Fluminense, dois pelo Flamengo.
Na última partida, jogando pelo empate, o Fluminense iniciou o jogo no ataque e conteve o ímpeto do Flamengo, empurrado por sua fanática multidão. Tanto que começou o primeiro tempo na frente: 2x0. Até aí, nada demais, afinal o Flu vencia tranquilamente o campeonato de 41.
Ainda no primeiro tempo o Fla diminuiu com Pirilo. Mas o que deixou esse jogo na história foi seu segundo tempo.
Para ser campeão, o Flamengo precisava virar o jogo. E partiu para cima, conseguindo o empate aos 39 minutos do segundo tempo, de novo com Pirilo. Tudo levava a crer que conseguiria a virada, porque, para desespero dos tricolores, o goleiraço Batatais, em uma disputa de bola com Pirilo (sempre ele), fraturou a clavícula.
Como não havia substituição naquele tempo, o goleiro continuou em campo e sua dor voltou a encher de coragem o Fluminense.
Acuado em seu campo, o tricolor achou uma solução nada convencional para esfriar a vontade rubro-negra: chutar a bola em direção à lagoa Rodrigo de Freitas, que na época chegava muito próximo ao campo do Flamengo, ao lado das gerais da Gávea. O zagueiro Renganeschi era quem atirava a bola mais longe.
A cada nova reposição, bola em direção à lagoa. Os dirigentes rubro-negros, desesperados, mandaram todos os seus remadores presentes ao estádio para dentro da água, para apressar o retorno das bolas. E assim foi passando o tempo, controlado pelo cronometrista, que parava o relógio sempre que a bola saía do campo.
O jogo ficou incrivelmente tumultuado. Grandes craques se transformaram em autênticos beques de fazenda, um goleiro jogando com osso fraturado e o alvo preferido dos jogadores do Flu não era o gol do Flamengo e sim as águas de uma lagoa. Para piorar, o juiz, sem controle da situação, mas coerente com o absurdo daquela partida mandou o craque Tim, do Flu, desforrar o pontapé que havia sofrido de um zagueiro flamenguista.
No final da partida, o Fluminense não contava com Brant, então com 35 anos, esgotado fisicamente e o atacante Carneiro, expulso por retardar a partida, chegando até mesmo a rasgar toda a camisa, tentando cavar uma penalidade.
A torcida rubro-negra estava revoltada, afinal havia mais bolas na água do que no campo do Flamengo. Além disso, havia Romeu Pelliciari, um grande craque tricolor, que jogava de gorro para esconder a careca. Quando dominava a bola, ficava com ela por longos períodos, usando toda a sua habilidade, o que fez com que recebesse várias faltas.
Quando finalmente conseguia furar a “tática” tricolor, os atacantes do Flamengo encontravam pela frente o grande herói Batatais, que fez defesas milagrosas.
Finalmente, após doze minutos de prorrogação e muita pressão de ambas as partes sobre o cronometrista, este acenou e o árbitro Juca da Praia encerrou a partida, que entrou para a história como o “Fla x Flu da Lagoa”.
O Fluminense se sagrou campeão e aumentou ainda mais a rivalidade entre os dois times. No dia seguinte, a imprensa carioca iniciou uma verdadeira campanha contra o Fluminense, acusado de ferir a ética esportiva.
Mas nada foi capaz de abalar a alegria que dominou as Laranjeiras. “Comemoramos com crianças”, declarou o saudoso Tim falecido em 1985), em entrevista à revista Placar em 1979.
“Porque aquele Fla-Flu da lagoa foi demais, foi muito chorado, e tudo que se consegue com dificuldade tem mais sabor”.
Ficha Técnica:
Fluminense 2x2 Flamengo
Data: 23/11/1941
Local: Estádio da Gávea
Público: 15.312
Renda: Cz$115.943,30
Flamengo: Yustrich, Domingos da Guia, Newton Canegal, Biguá, Volante, Jaime de Almeida, Sá, Zizinho, Pirilo, Reuben e Vevé. Treinador: Flávio Costa.
Fluminense: Batatais, Artur Machado, Renganeschi, MAlazzo, Brant, Afonsinho, Pedro Amorim, Romeu, Russo, Tim e Carneiro. Treinador: Ondino Vieira.
Árbitro: José Ferreira Lopes (Juca da Praia)
Gols: Pedro Amorim e Russo (Fluminense), Pirilo (2)
obs.: Devidamente surrupiado do Blog Historias do Futebol.
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